Os obstáculos financeiros estão impedindo você de aproveitar a oportunidade de se inscrever no Advanced Standing Program (ASP), no Advanced Education in General Dentistry (AEGD) ou na General Practice Residency (GPR)? Quer seja a enorme quantidade de documentação necessária, a tarefa de elaborar cartas de recomendação ou a incerteza sobre como seu status de imigração pode afetar suas chances, muitas pessoas sonham em praticar odontologia nos Estados Unidos há anos, apenas para encontrar um obstáculo quando se trata de finanças.

Primeiramente quero agradecer muito àqueles que, durante esses anos, vêm nos acompanhando e dando apoio para que este trabalho continue. Fico mais grato ainda por saber que tanta gente soube e aprendeu que é possível conseguir exercer a Odontologia nos Estados Unidos, tendo vindo já graduado de outro país. Eu tenho uma métrica de visitas do site de outros países, mas não sei dizer se são brasileiros que acessam o site atrás de informação, mas mesmo que sejam, a certeza de poder espalhar a informação já vale muito a pena.

Por mais que a gente se esforce não é sempre que a gente consegue o resultado que a gente espera. Pior que não ter o resultado desejado, é conseguir chegar aonde se precisava, mas sem ter o sentimento de vitória nas nossas mãos. Depois de pouco mais de seis meses de volta aos bancos da Faculdade, eu percebi que aquela minha vontade de terminar o programa como primeiro da turma iria somente me trazer angústia e frustração.

No meio de janeiro deste ano eu decidi ser pro-ativo a agendei uma consulta com meu médico para fazer meu exame anual. Consegui - tambem - fazer um exame de sangue para saber como estavam meus marcadores de saúde e fazer o acompanhamento dos numeros da minha diabete.

Os seis primeiros meses do programa Advanced Standing na Boston University passaram voando. Ainda que eu soubesse que isso aconteceria, ter vivenciado este primeiro semestre dentro desta instituição me ajudou a entender um pouco mais sobre o que eu quero para minha vida no futuro e o que eu absolutamente não quero para minha vida.

Em outubro de 2008 eu percebi que eu tinha em mãos uma chance muito boa de poder fazer a diferença. Trabalhando, então, como Limited Licensed Dentist no Mid Upper Cape Community Health Center em Hyannis eu me lembrei de quando me foi dito que não era possivel um Dentista Brasileiro trabalhar com Odontologia nos Estados Unidos. Eu precisava arrumar um jeito de espalhar a informação que, até então, não era divulgada em lugar nenhum. Mas não que não houvesse forma de fazê-lo. O problema era que ninguém tomaria a iniciativa de publicar um jornal sobre o assunto e divulgar essas informações de maneira clara. Que revista científica aceitaria a publicação desta informação? Seria este o melhor meio para contar para as pessoas que a impossibilidade não existia?

O sonho de exercer a Odontologia nos Estados Unidos pode estar atrelado a algumas idéias - quem sabe conceitos - que acabam sendo mudados uma vez que você submerge na vastidão odontológica local. Sem dúvida a Odontologia norte-americana é uma das mais produtivas do mundo. Não somente pela falta de profissionais competentes, recursos para o exercício mais o reconhecimento da profissão pela população dá um entusiasmo muito grande e acaba atraindo a atenção de Dentistas do mundo inteiro a buscar uma posição profissional por aqui.

Eu acho que já comentei aqui no blog um episódio que aconteceu durante uma aula no meu último ano do ensino médio - antigo terceiro colegial. Nosso professor de matemática perguntou para os alunos quem gostaria de ser professor. Alguns poucos levantaram a mão, mas eu fiquei pensando comigo mesmo que se eu tomasse a decisão de me tornar professor eu gostaria de fazê-lo, mas em nível universitário. Eu não achava que tivesse paciência ou destreza para lidar com uma sala de aula cheia de alunos que não queriam estar ali. Mal eu sabia que dali alguns anos eu estaria trabalhando como professor substituto de ciências, para alunos de 10 a 14 anos. Confesso não ter sido uma das experiências mais fáceis que já tive, mas foi uma coisa interessante e que aprendi muito sobre o relacionamento entre professor/ aluno e professor/ pai de aluno.

         Essa semana eu tive uma conversa muito interessante com um Dentista Brasileiro que está muito interessado em iniciar suas atividades profissionais aqui nos EUA. Com um Curriculum invejável e uma demonstrada motivação para conseguir alcançar seus objetivos, essa conversa foi muito produtiva, para mim principalmente, porque mais uma vez acabou consolidando o que me motiva a perseverar neste trabalho de postagens periódicas neste blog. Diga-se de passagem, as vezes eu mesmo me sinto como um dinossauro, informando através da redação de postagens sobre o assunto de validação do Diploma de Odontologia aqui nos EUA, porque hoje em dia tudo é muito rápido. Vídeos curtos no Tik-Tok, Facebook - velharia mesmo! - Instagram tudo com vídeos suscintos e diretos ao ponto que trazem o máximo de informação em menos tempo. Sinceramente acho que informação escrita seja um pouco mais completa e por isso pretendo permanecer com esta rotina.

Às vezes acho que o meu trabalho está concluído com este blog. A idéia inicial de me fazer ouvido por Dentistas do Brasil de que o exercício da Odontologia nos Estados Unidos era possível parece ter chegado a muito mais pessoas do que eu jamais imaginei. No Brasil, pelo menos, por que na Índia... phew!... muita gente por lá concluía o bacharelado em Odontologia com o objetivo específico de continuar seus estudos nos Estados Unidos para nunca mais voltarem para casa. Logo no meu primeiro ano por aqui eu tive a oportunidade de conhecer um Dentista Indiano que tinha acabado de concluir o ASP na BU e tinha graduado inicialmente dois anos e meio antes em uma das Universidades de lá. Ele terminou o programa e logo conseguiu um trabalho em uma das franquias de Odontologia aqui nos EUA. Não sei por quanto tempo ele permaneceu ali, mas a última vez que soube, ele tinha mudado para o meio oeste americano.

E já há quanto tempo eu não chego por aqui? Engraçado que eu fico pensando em escrever, atualizar o blog e contar o que está acontecendo dentro do Advanced Standing Program na Boston University e não sei... eu penso em justificar o fato de “não ter mais tempo” ... ou “a vida agora está muito corrida”... Não tem porque justificar ou arrumar desculpa para simplesmente dizer que eu não queria. Meio bruto? Não pense assim. Pense que existe um certo desgaste mental natural – depois de alguns anos trabalhando – e a gente perde um pouco daquele élan. Mas está tudo certo. O blog está vivo, assim como a vontade de continuar ajudando quem pensa em buscar o exercício da Odontologia nos Estados Unidos. A vantagem – agora – é poder contar sobre a minha experiência dentro do programa.

Grande dia… Primeira prova prática do curso. Programa intenso. Cheio de aulas, matéria para ser vista, revista e revisada. É muita coisa? Claro que é! Não dava para ser diferente, afinal de contas condensar quatro anos em dois tinha que ter um certo nível de desafio.

Confesso não ter tido o resultado que eu esperava no primeiro exame que eu fiz a semana passada. Foi um pouco decepcionante, mas muito melhor do que o primeiro que eu fiz no meu primeiro ano da faculdade em 1994. Acho que quase 30 anos depois, deu para amadurecer um pouco e entender a máxima aprendida - e nunca utilizada - ensinada pelo saudoso professor Homero Galvão: “Aula dada, aula estudada”. Ele ainda acrescentou “tarefa mínima” na época, porque eram tempos de colegial e fazer tarefa ainda era uma constante no meu dia a dia.

E finalmente chegou o dia da primeira prova do programa. Está uma comoção sem tamanho… há muito tempo que eu não via tanta gente nervosa para uma prova como eu estou vendo hoje. Se você me perguntar se eu estudei para a prova, eu vou dizer que sim, claro! Ninguém em sã consciência pensa em fazer um curso como este, simplesmente para dizer que nem se deu ao trabalho de estudar para a prova. Sim, eu estudei. Mas eu queria falar um pouco sobre este assunto.

Confesso que eu estou muito entusiasmado com o meu retorno aos bancos escolares. Não há dúvida de que tudo o que eu achava que sabia de odontologia estava totalmente defasado, ao ponto de eu ter me esquecido de como eficiente são alguns dos instrumentos mais simples que a gente somente usa na escola e, hoje depois de usá-los novamente, eu ter me dado conta de que perdi muito tempo por não utilizá-los novamente. Tudo bem que os exercícios de laboratório nos oferecem um tempo extremamente prolongado para que a gente complete o procedimento em manequim que a gente nunca - ou quase nunca - encontra na realidade do dia a dia. Quando, em condições normais de temperatura e pressão, eu teria uma hora para fazer uma restauração MOD em um segundo pre-molar inferior esquerdo com isolamento absoluto?

Hoje completa um mês que as atividades escolares iniciaram. A primeira semana talvez não conte como um momento acadêmico, mas é considerado dentro do calendário escolar. Essa primeira semana foi composta por muitas apresentações, debates e gente se conhecendo. Todos muito alegres por estarem onde estão, muitas dúvidas surgindo, amizades começando e rivalidades brotando.

Voltar aos bancos escolares confesso não estar sendo a coisa mais fácil do mundo. Imaginar que ha pouco mais de 4 semanas eu estava empregado, trabalhando em período integral a provendo para minha familia me faz pensar que este novo desafio realmente irá valer a pena. Hoje, já fora do ambiente de trabalho, compartilho a sala de aula com cem dentistas de 29 países que decidiram tomar todos o mesmo caminho: enfrentar este novo desafio para sair mais fortalecido no final de dois anos.

            Férias. Eles falam que é tudo de bom. Bom mesmo é rever a família e amigos. Depois de mais de cinco anos eu voltei para visitar minha cidade São José dos Campos em SP. Se você ainda não conhece São José, não acho que vá fazer muita diferença na sua vida. Só se lembre dela quando você estiver viajando em voos domésticos e por uma mera coincidência estiver dentro de um dos aviões construídos pela Embraer. Se você já fez uso de um de seus jatos, São José dos Campos fez parte da sua vida.

Algumas datas para serem lembradas:

            17 de setembro 2007 – Desembarco no aeroporto Logan em Boston portando a roupa do corpo, oitocentos dólares e uma mala de viagem, lado a lado com um brasileiro – Saulo - que conheci durante a escala feita em Miami. Providencialmente ele embarcou no mesmo ônibus que nos trariam até a rodoviária de Hyannis, ônibus este guiado por um outro brasileiro chamado Ananias. Neste mesmo dia, fui levado para almoçar em um restaurante brasileiro e fui servido arroz e feijão regado com farinha de mandioca e acompanhado de um belo frango assado.

            Confesso não estar sendo fácil conseguir colocar em palavras o que eu estou sentindo agora. Quando meu último Diretor iniciou seus dias trabalhando conosco eu procurei ter uma conversa franca e direta com ele. Perguntei se ele achava que seria uma boa idéia eu buscar completar o Advanced Standing Program. A sua resposta veio com uma pergunta: “Você quer trabalhar em consultório particular?”. Eu respondi que não. Ele, então, me disse que deixar o que eu tinha ali seguro para obter um certificado que me habilitaria trabalhar onde eu não queria, talvez não fosse a melhor alternativa, uma vez que ao concluir tal programa, eu contrairia uma dívida que certamente não poderia ser paga trabalhando em um Community Health Center. Eu tentei contra-argumentar sobre a questão de segurança no trabalho, no caso de eu perder o emprego, ao que ele riu e respondeu que eu não teria maior segurança de trabalho, ficando ali onde eu estava, uma vez que pacientes nunca faltariam para ser atendidos.