Dr. João Antonio Costa

Olá!

Bem vindo ao nosso blog. Aqui eu conto um pouco sobre minhas experiências dentro da Odontologia nos EUA e o Processo de Validação do Diploma de Odontologia nos EUA e minha jornada dentro da Boston University Henry M. Goldman School of Dental Medicine.

Espero que você aprenda bastante!

Sobrevivendo à tempestade: navegando pelas tempestades acadêmicas na Universidade de Boston

Sobrevivendo à tempestade: navegando pelas tempestades acadêmicas na Universidade de Boston

Esta semana tive uma das experiências mais difíceis deste quase um ano — já? — dentro do programa na Boston University. Não foi nada relacionado à saúde, problemas pessoais ou dificuldades externas. O que contarei aqui foi a minha experiência, o que senti ao final de um exame que, ao mesmo tempo que eu sabia que não era difícil, se mostrou o mais difícil que eu já fiz.

Quando a gente está na Faculdade de Odontologia, a gente tem uma matéria chamada “Odontologia Preventiva”. Esta matéria trazia informações sobre formas de tratamento, prevenção — como o próprio nome diz — e informações bioquímicas de como o flúor age na cavidade oral de maneira a prevenir o estabelecimento e desenvolvimento da doença cárie. Foi nesta matéria que fiz o atendimento da minha primeira paciente da vida, uma menina de 12 anos — ainda em 1994 — quando usei um evidenciador de placa bacteriana, a caneta de baixa rotação, pedra-pomes e água para limpar os dentes dela. Prevenção. Formas de evitar a doença. Índice de placa, contagem de faces coloridas pela solução evidenciadora de placa, incidência, prevalência e só.

Se você não trabalha no serviço público, poucas vezes você irá se encontrar com estas ideias novamente e é muito pouco provável que qualquer outra coisa similar a estas ideias irá permear o seu dia a dia. Quando vi que a matéria “Preventive” seria parte da lista de assuntos do programa, imaginei que teríamos uma abordagem mais profunda e atualizada sobre o desenvolvimento dos estudos de métodos de prevenção e o uso do flúor nas comunidades norte-americanas, mas não muito bem assim.

A primeira aula começou interessante. Uma aula interativa onde a professora dava algumas perguntas aleatórias sobre o assunto que ela começou a abordar que era incidência e prevalência. Não falou nada sobre o uso de flúor em si, mas de que maneira era possível contar os casos e como fazer a interpretação dos resultados obtidos. Nada diretamente falando sobre o uso de flúor em si, mas uma coisa mais teórica que teria tido uma assimilação maior se tivesse simplesmente terminado ali.

Mas qual não foi a surpresa de todos quando o assunto começou a se aprofundar ainda mais? Odds, estatística, tabelas, estatística, um assunto totalmente fora do contexto a que todos da sala estavam habituados, a não ser um único aluno que fora professor de bio estatística no seu país de origem. Fora ele — que era o que mais participava da aula — ninguém estava conseguindo seguir as ideias que a esforçada professora, com um sotaque indiano muito carregado, tentava explicar para todos. Mais do que ser um assunto pouco visto durante a vida profissional, a linguagem utilizada colocava todo mundo sem saber para onde ir, porque era uma coisa que não fazia sentido nenhum. Hipótese nula? Rejeitar a hipótese nula? Onde isso iria parar?

Parou no exame final, para dali não ser mais abordado. Não interessou o tempo investido estudando o assunto, lendo outros artigos, vídeos no YouTube com uma linguagem mais acessível ou mesmo pedindo para o Chat GPT me explicar como se eu fosse um aluno da quinta série. Para mim, este exame passou por cima de mim como se fosse um trator desgovernado, ladeira abaixo. No final da prova, eu me senti como há muito tempo eu não me sentia: derrotado, humilhado e sem chão. Tudo bem que humilhado pode ser um pouco dramático demais, mas a sensação foi de completa derrota.

Saí da prova aliviado por não precisar mais rever este assunto, mas, ao mesmo tempo, incerto sobre a minha aprovação. Não tinha como eu ter ido bem. Para você ter uma ideia, chegou um momento em que eu não conseguia interpretar um enunciado para responder 5 perguntas. O negócio era ler, colocar as informações em uma tabela, interpretar o que a tabela estava me informando e acertar 5 perguntas fáceis. Eu simplesmente não consegui.

Mandei uma mensagem para o grupo da família. “Senti como se tivesse sido atropelado por um caminhão no final da prova”. Minha esposa logo ligou porque ela só leu “atropelado por um caminhão”. Quando viu o motivo, ainda ficou brava e eu levei bronca pelo susto que levou. Meu pai respondeu: “Quem sai na chuva é para se molhar”. No caso, eu estava mais para aquele que está andando na chuva querendo se proteger e passa um carro do seu lado em cima de uma poça de água e te lava de cima a baixo.

Talvez a prova não tenha sido difícil como ela parecia. Se eu tivesse submergido mais durante as semanas anteriores, talvez eu tivesse entendido melhor o assunto. O fato é que a classe toda foi tão mal neste exame que o chefe da cadeira eliminou 10% das questões que mais da metade da sala não acertou. Isso acabou elevando a nota final de todo mundo e, pelo que me parece, não haverá necessidade de remediação — ou prova de recuperação. Se existe uma lição a ser aprendida nesta experiência toda, é: se sair na chuva, lembre-se de levar guarda-chuva, capa, chapéu, boné, bota, galocha, o que for necessário para se proteger, porque o que às vezes parece ser somente uma garoa pode se tornar um temporal.

Um abraço e sucesso sempre!

Insights sobre as diferenças culturais e profissionais entre a prática da odontologia no Brasil e nos EUA.

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Superando Barreiras Financeiras para Buscar Educação Odontológica nos EUA

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