Eu acho que todo mundo que se conhece como Dentista já ouviu a frase “A Odontologia é uma profissão que exige dos que a ela se dedicam, o senso estético de um artista, a destreza manual de um cirurgião, os conhecimentos científicos de um médico e a paciência de um monge”. Segundo fontes esta frase foi proferida pelo Papa Pio XII em 1946 quando discursou para Cirurgiões Dentistas na Itália. Mais do que o senso estético de um artista, destreza de um cirurgião, ciência de um médico e a paciência de um monge eu adicionaria alguma coisa mais relacionada com a habilidade de se relacionar emocionalmente com as pessoas.

O Blog Dentista Brasileiro nos Estados Unidos foi criado para mostrar para Dentistas Brasileiros que a oportunidade de trabalho dentro da Odontologia nos Estados Unidos é possível. A melhor forma de divulgação de qualquer ideia hoje em dia se dá através da internet. Blogs, videocasts, podcasts são alternativas midiáticas para poder alcançar as pessoas das mais diferentes classes sociais que convergem dentro do espaço da internet a um único grupo de pessoas: o usuário.

Não é possível começar uma obra sem se ter tudo planejado de antemão. Aliás... é possível. Lançar alicerces, subir paredes, lajes, cobertura, acabamento e finalmente o final da obra. Se você planeja tudo as surpresas e gastos extras acabam diminuindo consideravelmente e qualquer sentimento de frustração acaba sendo colocado de lado. Para se construir uma casa ou qualquer outra coisa na nossa vida é necessário um bom planejamento para surpresas no meio do caminho não interfira na expectativa da conclusão de tudo.

Um programa de televisão que acabou fazendo muito sucesso pelo mundo descreve a vida, as lutas, sofrimento da família e da própria pessoa que sofre de um distúrbio mental que a leva a acumular coisas inúteis. Hoarders ou Acumuladores em tradução livre para o Português descreve a vida de pessoas que simplesmente não conseguem se desfazer das coisas. Uma caixa de sapato que foi comprado há mais de vinte anos fica guardada com lenços de papel comprados na última viagem para a Europa há quase trinta anos. A pessoa não sabe quando irá ter utilidade, mas faze questão de manter aquilo. A caixa de sapato, os lenços e uma miríade de objetos e bugigangas que não acrescentam absolutamente nada em suas vidas, mas estão ali.

Há não muito tempo eu tive contato com um Dentista que imigrou para os Estados Unidos depois de alguns anos de sucesso profissional na Odontologia no Brasil. Não sei os motivos reais que o levaram a deixar a terra brasilis, mas pelo que eu entendi, pouco ou muito pouco o seu lugar de origem tinha para oferecer para ele em termos profissionais e financeiros. Quando eu digo sucesso profissional, não entenda que eu queira dizer reconhecimento profissional. O que eu quero dizer é grana, dinheiro, tutu, massari, dindin, bufunfa. Esse rapaz estruturou e consolidou muito bem a sua vida profissional, de acordo com ele fez muito dinheiro, e decidiu partir para outras aventuras.

Confesso que venho tendo muito prazer nestas duas últimas semanas investindo tempo na elaboração das entrevistas feitas e disponibilizadas no Youtube e aqui no blog. Há alguns anos eu tive essa intenção de colocar em contato os Dentistas Brasileiros aqui nos Estados Unidos, mas eu percebi que a dedicação deveria ser muito maior que o tempo que eu tinha disponibilizado para esta tarefa, bem como a dificuldade de encontrar gente disposta a fazer parte deste pool de pessoas.

Você já ouviu dizer que ser dentista nos Estados Unidos é uma coisa impossível de acontecer tendo sido graduado(a) em uma Faculdade de Odontologia do Brasil? Já ouviu dizer que é só preciso fazer uma prova para conseguir revalidar o Diploma e começar a trabalhar como Dentista em solo Americano? Você conhece alguém que tem um conhecido, parente de um vizinho que é primo da sua tia que está trabalhando nos EUA e ganhando rios de dinheiro? Esse texto, então é para você.

Ainda há poucos dias eu estava conversando com alguns amigos pela internet e estávamos falando dos primórdios da world wide web e como era difícil conseguir informações de qualquer natureza. Primeira porque as conexões para navegação online eram sempre de alto custo quando aconteciam durante o dia. Para quem não conheceu esses dias, o que eu quero dizer é que as conexões feitas para a internet aconteciam usando a linha telefônica que tínhamos em casa. Sim, cada casa tinha uma linha telefônica que atendia toda a família. Cada minuto de uso do telefone, eram cobrados pulsos. Cada pulso não era uma coisa exorbitante de caro, mas se você ficasse pendurado na internet durante o dia, todo o dia no final do mês a conta telefônica vinha astronomicamente alta e ninguém conseguiria falar com ninguém daquela casa.

Nosso retorno ao trabalho depois do recesso forçado imposto internacionalmente pela pandemia devido ao corona vírus foi uma coisa muito promissora. Promissora no sentido de ter a oportunidade de reiniciar as atividades em um novo ambiente de trabalho, nova energia e nova esperança. Tudo muito bem feito e montado. Eu costumo dizer para meus pacientes que a companhia colocou muito amor na construção daquele Centro Odontológico e para mim está sendo uma oportunidade que nunca pensei ter.

Quando eu trabalhava no Brasil um dos últimos locais onde eu trabalhei foi em um bairro da periferia de São José dos Campos, interior de São Paulo, onde não havia ainda a presença de um Dentista. Pensando que eu poderia fazer a diferença no cuidado da saúde bucal da população do bairro e na minha vida profissional, decidi investir e desbravar este novo nicho de uma cidade que mantém um dos maiores índices de Dentista por habitante. Ao mesmo tempo, pouco ou quase nada sobre montar, gerir e administrar um negócio eu sabia. E sei. O que eu sei é que são necessárias horas de estudo, literalmente debruçado sobre a mesa, para montar um plano de negócio, elaboração de documentação, estudo, planejamento e tudo que faz um consultório odontológico ser encarado como uma empresa.

No ano de dois mil e três eu caí em um golpe aplicado na região de São José dos Campos promovido por uma agência de empregos que prometia recolocação profissional após o pagamento de uma certa quantidade de dinheiro mais a participação de dinâmicas de grupo e outras reuniões que acrescentariam mais valor ao meu curriculum, tornando-me mais preparado e atraente para qualquer cargo que eu estivesse procurando. Este “qualquer cargo” no meu caso óbvio, deveria girar em torno de atendimento clínico odontológico, uma vez que eu não tinha habilidade, conhecimento ou qualquer outra experiência em qualquer outra área. Nem mesmo na área administrativa. Zero, nulo, nada, nichts.

Dá para dizer que 2020 foi um bom ano? Eu acho que sim. Dentre tanta coisa que aconteceu, gente que se foi e promessas não cumpridas só o fato de estarmos ainda por aqui é possível dizer que o ano foi bom. É claro que muitos vão dizer que não foi possível fazer nada proveitoso, ou que ficar preso em casa não foi uma boa experiência, pais e mães presos com seus filhos impedidos de ir para a escola ou mesmo o alívio de tanta gente por não ter que suportar a presença do chefe no cangote, podendo fazer todo o trabalho de casa.

Agora já acabou.

Dia dezesseis de março de dois mil e vinte ficou marcado para muita gente como o primeiro dia de um longo período que acabou com a produção profissional de um quarto do ano inteiro. Para uns menos tempo. Para outros a improdutividade ainda continua. No meu caso foram oitenta e nove dias.

Setembro de dois mil e sete foi um mês decisivo na minha vida. Passei as primeiras duas semanas no Brasil e logo no início da segunda semana tudo mudou para mim. Nova vida, nova casa, novo país e novas perspectivas que estavam se abrindo naqueles dias de um agradável outono setentrional. Não tão importante quanto metade do meu coração que ficou no Brasil foi uma história de fracassos e sucessos que serviram como lições de vida. Como tudo do passado, nada poderia mudar o que viria pela frente, somente as experiências vividas que ajudariam a caminhar em uma estrada ainda cheia de obstáculos, mas com um pouco mais de experiência.

Você se lembra dos dias pré-vestibular? Dias anteriores ao momento da prova, quando todo o conhecimento acadêmico, até então, seria colocado à prova para garantir o seu ingresso na Faculdade de Odontologia? Algumas provas mais fáceis que as outras, umas vezes as vagas não tão disputadas. Mas no final das contas, era somente você e a prova à sua frente, dois ou três dias sentado por quatro horas, cercado por gente que você pouco ou nada conhecia, sendo vigiado a todo o momento para se ter certeza de que somente o que vinha do seu conhecimento acumulado estaria nas folhas de respostas ou no gabarito.

Ainda que a Dental Limited License em Massachusetts pareça ser um caminho simples para quem deseja exercer a Odontologia nos Estados Unidos, a habilidade de trafegar por esta estrada é cheia de dificuldades que quem está ansioso em seguir este caminho desconhece completamente. Eu digo isso porque eu fiz parte deste grupo de pessoas. Eu aprendi - e continuo aprendendo - que a Odontologia praticada em (CHC) Community Health Centers deve ter o seu padrão de qualidade almejando sempre a qualidade acima da média.

No curso de Odontologia faz falta uma matéria bem dada e bem abordada durante os anos de Faculdade que abranja o tema negócios ou administração. Eu não posso falar por outros cursos pelo Brasil, mas eu posso fazer um breve comentário do que eu vivi na Faculdade bem como o que eu vejo de alunos recém formados aqui nos Estados Unidos.

Quanto mais velho a gente vai ficando menos a gente lembra do que a gente viveu quando criança. No meu caso, algumas memórias permanecem bem vivas e uma delas foi a primeira vez que eu me dei conta que eu era canhoto. O problema era que eu não conseguia me adaptar muito bem ao mundo destro onde eu vivia. Se não me engano, eu acho que eu era o único canhoto da turma da escola. Para quem é canhoto a gente sabe como é difícil conseguir se enquadrar no mundo que nos cerca.

No final dos anos oitenta eu passei por uma mudança muito grande. Nada relacionado com pelos em lugares inesperados ou mudança de voz. Um processo de amadurecimento que eu prefiro pensar em alguma coisa como “pegar no tranco”. Foram necessários dois anos de insucesso nos bancos escolares para que eu tivesse a compreensão de que a vida não se resumia ao que eu pensava ser a realidade.

Em meados nos anos oitenta eu participei de um processo seletivo para fazer parte de um programa de intercâmbio patrocinado pela companhia onde meu pai trabalhava. O intuito deste processo era conhecer o(a) possível candidato(a) para participar de um intercâmbio nos Estados Unidos totalmente patrocinado pela companhia. Na época era coisa de dez mil algum dinheiro que eu não me lembro... dólar, cruzeiro, cruzado, cruzado novo. Eu não sei. Só sei que esta era uma oportunidade que eu não poderia desperdiçar se eu quisesse ter a chance de passar um ano estudando e morando nos Estados Unidos.