Dr. João Antonio Costa

Olá!

Bem vindo ao nosso blog. Aqui eu conto um pouco sobre minhas experiências dentro da Odontologia nos EUA e o Processo de Validação do Diploma de Odontologia nos EUA e minha jornada dentro da Boston University Henry M. Goldman School of Dental Medicine.

Espero que você aprenda bastante!

Summa Cum Laude

Summa Cum Laude

        E já há quanto tempo eu não chego por aqui? Engraçado que eu fico pensando em escrever, atualizar o blog e contar o que está acontecendo dentro do Advanced Standing Program na Boston University e não sei... eu penso em justificar o fato de “não ter mais tempo” ... ou “a vida agora está muito corrida”... Não tem porque justificar ou arrumar desculpa para simplesmente dizer que eu não queria. Meio bruto? Não pense assim. Pense que existe um certo desgaste mental natural – depois de alguns anos trabalhando – e a gente perde um pouco daquele élan. Mas está tudo certo. O blog está vivo, assim como a vontade de continuar ajudando quem pensa em buscar o exercício da Odontologia nos Estados Unidos. A vantagem – agora – é poder contar sobre a minha experiência dentro do programa.

            Quando eu cheguei nos EUA, uma das primeiras coisas que eu ouvi dizer foi que a Boston University era a Universidade que mais oferecia vagas para Dentistas estrangeiros completarem o Advanced Standing Program (ASP). Dezesseis anos atrás eram 70 vagas, disputadas quase que a tapa por Dentistas extremamente capacitados, que ao que me parece, viviam sob uma competição acirrada pelas melhores notas antes e depois de ingressarem no programa. Esta competição antes de iniciar o programa era imposto pela nota de aprovação no antigo National Board Dental Examiners (NBDE) parte I. A média das notas competitivas para ingressar no programa era 95. A nota mínima para aprovação, 75. Dá para imaginar que nesta época, caso a nota no NBDE fosse o único critério de avaliação, simplesmente ser aprovado no exame não significaria ter chance de ingressar no programa. Claro que outros requerimentos eram necessários serem preenchidos, mas o fato é que uma nota baixa – abaixo de 90 – não seria um fator de entusiasmo para grandes celebrações.

            Muita coisa mudou. Hoje não existe mais avaliação por nota. Hoje você é aprovado ou reprovado. Se foi aprovado, você não tem acesso à sua nota. Se foi reprovado, você recebe um relatório com a sua nota e quantas questões você errou dentro de cada área envolvida. Ficou um pouco mais democrático o critério de avaliação, dando aos programas a idéia de que quem foi aprovado cumpre os requisitos mínimos necessários para prosseguir dentro do programa.

            Chegar até lá foi uma coisa que eu mesmo nunca tinha parado para pensar no que seria. Sabendo que o programa seria intenso e exigente, eu comecei a me preparar mentalmente para a bucha que viria. Aulas teóricas, laboratório, provas e repetição. Semanalmente a mesma rotina dentro do auditório de aula, laboratório e provas. Eu ali, focado, estudando como nunca fizera na minha vida inteira, dedicando horas na biblioteca, no dormitório, fazendo resumo, lendo, relendo, aprendendo como nunca fizera antes, entendendo por que tanta merda tinha acontecido dentro do consultório com casos que pareciam tão simples... um quebra cabeça que começou a se montar para quando chegasse meu primeiro exame o resultado não ter sido nem de longe o que eu esperava.

            Foi deprimente. Mesmo. Fiquei mal. Tanto esforço para na hora da prova passar por aquele papelão. Gente do lado com uns notão e eu com uma notinha mequetrefe. Fui buscar ajuda. Não esperei. Fui atrás de aconselhamento, entrevista com os professores para entender o que tinha que ser feito para remediar aquela resultado muito aquém do que eu esperava e sabia que poderia oferecer. A conclusão foi libertadora.

            Depois de conversar com professores, um terapeuta e colegas que já passaram pelo programa, eu entendi que independentemente do resultado de provas o mesmo certificado que eu receberia no final do curso seria igual para todos, do primeiro lugar da classe ao último colocado. Não quero dizer que ser o último está OK, mas para quê me descabelar (piada interna) em tirar nota se o que vale é levar aquilo que a gente aprende? Eu digo que nestes últimos seis meses eu nunca aprendi tanto na minha vida. Com certeza a experiência clínica de mais de vinte anos, somado ao que eu venho vendo e revendo hoje, certamente irá me dar uma vantagem muito grande futuramente. E é justamente aí onde eu devo me concentrar. Não na nota que eu vou tirar, mas naquilo que eu vou aprender.

            Infelizmente o sistema de avaliação escolar ainda reside em fatores um tanto quanto arcaicos. A gente vem de uma cultura que impõe a idéia de que o bom aluno é aquele que tem as melhores notas. Ninguém questiona a capacidade e conhecimento destes que se sobressaem academicamente, mas deixar de lado os alunos que lutam para aprender, aprendem, entendem conceitos e sabem aplicá-los profissionalmente acaba sendo um pouco injusto quando o quesito reconhecimento está em jogo. Mas, tudo bem. Cada um de nós sabe do esforço feito para chegar até onde chegamos e mesmo que o reconhecimento externo não venha o que vale é aquilo que a gente aprendeu.

            Estes últimos seis meses não foram fáceis. Deixar a família e viver sozinho em um dormitório não é a coisa mais sensacional do mundo. Graças a Deus pela tecnologia que me permite falar com minha esposa e filha diariamente, pelo menos duas vezes por dia. O apoio e suporte vindo delas tem sido combustível para os meus dias ali. No início tem aquele entusiasmo de início de curso, gente nova, ambiente novo, coisas novas para se ver e fazer que com o passar do tempo acaba arrefecendo. Manter o vigor e entusiasmo para os próximos três semestres até o final do curso, confesso, não será fácil, mas saber que eu tenho gente tão amada que tem me dado todo este suporte certamente faz a jornada menos difícil.

            Mas ao mesmo tempo que estes últimos seis meses não foram fáceis em termos pessoais, profissionalmente acabaram sendo muito proveitosos. O contato com colegas de outros países tem me ajudado ao abrir ainda mais a minha cabeça. Saber que todos estamos navegando no mesmo barco acaba dando um sentimento de companheirismo muito grande, onde todos se ajudam. Como me foi dito no início do programa, ninguém termina o curso de maneira solitária. Todos se ajudam. Seja compartilhando resumos, dividindo tarefas, dando um abraço em momentos difíceis, conversando, rindo ou até mesmo chorando juntos, mais do que o conhecimento dentro da Odontologia a gente vai levar o sentimento de cumplicidade e companheirismo para o resto da vida, e mesmo que isto não valha nota, no final certamente irá valer muito mais do que terminar o curso Summa Cum Laude, Magna Cum Laude ou Cum laude.

            Um abraço e sucesso sempre!

Faça o seu melhor

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Sedimentação

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